Vitória

Por Manu Mariz

Baseado numa história real de uma moradora de um morro no Rio de Janeiro que, com 80 anos, denuncia os envolvidos no tráfico de drogas no ano de 2005, Fernanda Montenegro cai como uma luva no papel principal do longa de 1h52 de duração. Tempo esse que eu nem percebi passar de tanta tensão que tem na tela. Não se fica entediado nenhum minuto.

O tempo todo o filme nos traz personagens, e até objetos, que serão importantes na contação da história. Eu sempre digo que prestem atenção nos detalhes porque se uma coisa é mostrada, é porque aquilo ali vai voltar com alguma função na trama, nem que seja para demonstrar o lado humano da personagem e a gente se apegar a ela enquanto ser humano.

Nesse filme a gente passa por muitos perrengues emocionais: a gente se revolta, fica triste, tem medo e se empadece. Gostaríamos não só de dar um abraço de acolhimento como também dar conselhos por causa de tanta ingenuidade. Com frequência eu digo que “A linha que separa a coragem da estupidez é tênue”, porém a personagem Nina é corajosa várias vezes de verdade, sem nenhuma estupidez.

Dá pra sentir no coração as coisas que sentíamos no final dos anos 90, a fé que ainda nos rodeava na parte que presta da polícia, nas pessoas dos comércios ao redor, na criança que leva nossa feira pra ganhar um trocado, no porteiro, no vizinho… O filme consegue nos passar a atmosfera desse tempo com maestria.

Esse é o tipo de filme grandioso, importante, necessário na vida da gente. Um assunto importante, uma vida real que se pôs em risco para salvar milhares, uma produção caprichosa, uma atriz que amamos pela pessoa que é e por sua trajetória, orgulho do cinema nacional, que me fez rir com seu palavreado, chorar por sua empatia, ter raiva de sua inocência, ficar triste por seu passado e lavar a alma com sua coragem.

Super recomendo este filme, que foi filmado no interior de Pernambuco, com Fernanda Montenegro nos seus 95 anos (às vezes lhe falta a voz, mas a emoção em seu corpo é tanta que ela nem precisa falar, só seu olhar expressa tudo que captamos junto a ela), dirigida por seu genro, Andrucha Waddington – que já dirigiu as duas Fernandas em A casa de Areia (2005) e Gilda, Lucia e o Bode (2020) – e também é produtor e roteirista de Vitória junto com o ex-diretor de fotografia Breno Silveira (Gonzaga: de Pai pra Filho; 2 Filhos de Francisco), falecido em 2022 logo no início das gravações deste filme, tendo então a dedicatória ao final do filme para ele.

Vale a pena demais ir ao cinema ver este filme. Vá mesmo! Pagando o ingresso, você ajuda a produzirem mais filmes bons. Viva o cinema brasileiro!