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Voltar a Cabaceiras é como entrar num filme que a gente ama

Por Cibelly Correia

Aquela igrejinha azul-bebê, adornada por luzes cintilantes, parece ter saído de um conto antigo. Ou melhor: de um rolo de filme já rodado, mas sempre com a graça de uma primeira exibição. Ao avistar a Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, bem no coração de Cabaceiras, senti o tempo escorrer devagar, como se me convidasse a ficar mais um pouco. Era como reencontrar um velho amigo que, apesar dos anos, nunca mudou.

Não era minha primeira vez ali. Mas havia algo diferente. Talvez fosse o clima encantado da Festa do Bode Rei, que coloriu o último fim de semana com sabores, sotaques e tradições. Ou talvez fosse o projeto “Você no Auto da Compadecida”, que transformou a cidade em um imenso palco a céu aberto, recriando cenas do clássico de Ariano Suassuna com uma fidelidade quase poética.

Letreiro Roliúde Nordestina, em CabaceirasEra como se Cabaceiras decidisse virar filme de novo.

Roda-gigante, carrossel, personagens vivos desfilando pelas ruas de pedra, moradores e turistas misturados numa encenação coletiva. Ali, qualquer um pode ser Chicó por um instante, João Grilo por um riso. O improvável vira possível. O fictício, realidade.

É impressionante como o audiovisual tem esse poder de moldar memórias e traçar rotas turísticas, dando novo significado às chamadas “cidades-cenário”. O Auto da Compadecida não apenas imortalizou Cabaceiras nas telas; deu à cidade um novo papel: o de guardiã da cultura cinematográfica nordestina, onde a fé popular se mistura com o riso e a resistência do sertão.

Naquela cidadezinha do Cariri paraibano, o cinema não é só lembrança: é presença. É identidade. É economia que gira com as lentes e os passos curiosos de quem vem de fora em busca de algo que não se encontra nos grandes centros: autenticidade.

No fim das contas, o que mais me comove é ver como um cidade pequeno município, com suas esquinas de história e cenários, consegue ser tão grande, na tela e no coração de quem a visita. Porque Cabaceiras, quando vira filme (ou série), também vira saudade.

E isso, só se sente.

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